A Biblioteca
por Armando Ferreira
– E aqui?
– Era a saleta de música. As irmãs do senhor marquês, em novinhas, passavam aqui as tardes. Uma no cravo...
– Outra na ferradura! Ah! Ah! Ah! – e de tal maneira gargalhou o Sebastião, que o Inocêncio, procurador, não só interrompeu as explicações como ficou inquieto, com receio que o carão vermelhaço e a pescoceira a estoirar no colarinho de goma de bicos revirados, do comprador, rebentasse com o inchaço sangüíneo. Mas, o que o inquietava era a dúvida, se seria sangue ou vinho, o que ia sair do apoplético Sebastião das carnes.
E, parecia não acabar, sufocado em riso:
– Ah! Ah! Mas que manias as dos fidalgos! Tanta toleima com as meninas, para ficarem para tias... E olhe que a Dona Clarinha era tão estica, tão carga de ossos, que, rais me comam, se não passava fome...
– Ó senhor Sebastião!
– Não comiam, já lhe disse, com a mania que era ordinário comer... Nem chispe, nem bacalhau... nem presuntos... Só bicos de rouxinóis... Lembra-me muito bem, de meu pai dizer, que nunca do nosso talho saíu para o palacete mais do que uns “rinzes” de carneiro, uns miolinhos... Quem não come não tem fôrças para trabalhar! Por isso deu com as fazendas no chão...
– O senhor marquês trabalhava de outra forma; era um intelectual; levou vinte anos a estudar... LER MAIS